quinta-feira, 19 de junho de 2014

Exclusivo: a entrevista que Felipão não deu. Barrigada da Globo e Folha


SÃO PAULO - Neymar e Luiz Felipe Scolari foram os últimos passageiros a embarcar no avião, às 17h30 de ontem. Como o voo da ponte-aérea, do Rio para São Paulo, estava lotado, ambos se espremeram em poltronas entre passageiros, Felipão na 25E e Neymar na fileira da frente.

- Vê se dorme, moleque - disse o técnico ao jogador. Neymar desligou o celular, mas não dormiu, apesar de apenas um passageiro ter-lhe pedido um selfie durante o voo. Tampouco Felipão pregou o olho. Um tanto apreensivo com o céu carregado, ele respondeu de bom grado tudo que lhe foi perguntado.
- “Acho que, até agora, os melhores times foram a Holanda e a Alemanha - disse.
- Eles vão dar trabalho. A Itália também. Ela sempre chega às semifinais. É como o Brasil: tem tradição, empenho, torcida.

O zero a zero com o México não o abalou:
- Pode ter sido até positivo, na medida em que jogou um pouco de água fria no oba-oba, na ideia de que é fácil ganhar uma Copa.
Num campeonato de nível tão alto, ele acha imprevisível fazer prognósticos.
- Quem diria que a Espanha sairia da Copa logo de cara? - indagou.
O mesmo raciocínio ele aplica à seleção sob a sua responsabilidade.
- O Oscar fez uma excelente partida na estreia, mas não foi bem no segundo jogo - disse, mastigando um salgado de gosto insosso.
- O Neymar foi bem, mas não teve a genialidade da partida anterior. São coisas que acontecem. E quem esperaria que o goleiro mexicano defendesse todas? - indagou.
Felipão concordou com o raciocínio que Neymar parece mais centrado, não se joga tanto no chão ou faz demasiado teatro:
- É verdade, ele está mais objetivo. Mas pode melhorar ainda mais. Não dá para apressar muito esse processo: ele é muito moço, tem que aprender as coisas na prática.

ELOGIOS A NEYMAR

Mas não tem dúvidas:
- Se tivéssemos três como ele, a Copa seria uma tranquilidade.
O avião deu solavancos e o técnico comentou:
- Isso sim é que é um especialista, repare como o piloto conduz o avião com mão firme, fazendo mil coisas ao mesmo tempo.
O que seria mais difícil: pilotar um avião ou a seleção nacional?
- Não tem comparação, avião é muito mais difícil. O piloto lida com vidas humanas, é responsável por elas. Se a seleção perder, será muito triste para o Brasil, para os jogadores, a minha família e eu. Mas ninguém corre risco de morte.
Felipão se disse satisfeito com o ambiente geral da Copa. Não esperava que tantos mexicanos e chilenos viessem, nem que as torcidas se confraternizassem.
- Até os argentinos estão se dando bem com os brasileiros. Pelo menos até agora.

TÉCNICO APROVA AEROPORTOS

Felipão também disse que os estádios são bons e a organização dos jogos funciona.
- E te digo: tive dúvidas, mas os aeroportos onde estive até agora estão uma maravilha.
Contou que ninguém do governo o procurou, em momento algum. E ouviu com agrado o relato de meu encontro recente com um ministro, seu fã atilado.
- Pelo que ouço dizer, o governo está torcendo pela seleção, e a oposição nem tanto. Acho uma bobagem misturar futebol e política. Eu mantenho essa separação custe o que custar, não dou uma palavra sobre política.
Os xingamentos a Dilma no jogo de abertura, portanto, não lhe dizem respeito.
Perguntado se lia comentários de especialistas nos jornais, ou ouvia o que diziam na televisão, Scolari sorriu:
- Até papagaio fala.
Ao ouvir os nomes de alguns, ex-jogadores e ex-técnicos, repetiu, divertido:
- Papagaio fala!
Felipão terminou de tomar a caixinha de suco de laranja e se se explicou melhor:
- Os comentários são necessariamente frios, distantes. A experiência de jogar no Maracanã lotado, de cobrar um pênalti, de ouvir vaias, são coisas que mexem com o jogador, com o indivíduo. Não é questão de aplicar uma receita.
Para o treinador, as variáveis envolvidas numa partida são inúmeras, não é possível reduzí-las ou quantificá-las.
Deu como exemplo a seleção da Alemanha:
- Ela está na Bahia, no sol, entre mulatas lindas. Claro que isso os influencia.
Felipão riu de novo:
- Desconfio que alguns deles nem voltarão para a Alemanha.

ZAGA, O PRINCIPAL PROBLEMA

Se não acompanha os comentaristas da imprensa, ele está ciente de dificuldades táticas e de entrosamento na seleção.
- O principal problema é a zaga. Ela cai para o lado, quando deveria ir em frente, buscar o jogo lá na frente.
O que mais o irritou até agora foram os boatos, divulgados pela imprensa europeia, que o Brasil já ganhou a Copa, já que a Fifa teria orientado juízes a facilitarem a vida da seleção.
- Mais que um absurdo, é um desrespeito. Você imagina comprar a Itália, a Alemanha? Isso não existe.
O avião sobrevoava São Paulo, coberta por nuvens.
- É como descer a serra de Santos com um nevoeiro fechado, sem enxergar nada. Esse comandante sabe tudo.
Neymar e o técnico tinham participado da gravação do programa “Zorra Total”, no Projac, o estúdio da Globo em Jacarepaguá.
- Não gosto de passar muito tempo longe de São Paulo: veja que cidade interessante - apontou o treinador.
Felipão estava curioso em saber como seu filho se saíra numa prova naquele dia. Ele estuda Economia nas Faculdades São Judas Tadeu, e pegara uma recuperação.
- Mas o garoto vai bem, é estudioso.
Perguntei se toparia dar uma entrevista ao programa “Diálogos”, da GloboNews.
- Claro, vamos lá. Só que ando meio ocupado... - disse, rindo.
Pegou sua carteira, tirou um cartão de visitas e me entregou, afirmando:
- Mas isso pode te ajudar por enquanto.
O cartão de visitas dizia:
“Vladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos”.
Depois das gargalhadas, apertou a mão e disse:
- Deus te proteja.

Do BlogARCosta: Vladimir Palomo, sósia de Felipão, conversou com o colunista Mario Sergio Conti (Globo e Folha) como se fosse o próprio Felipão, no avião. E ele acreditou!

Um comentário:

Jacson Artson disse...

Sabe de nada inocente!